segunda-feira, 8 de junho de 2009

A Bolha

Um paralelepípedo caindo sobre o

peito...alguns filmes tem esse efeito sobre mim; uma porrada bem no meio do tronco, atingindo o estomâgo e o tórax ao mesmo tempo, me deixando sem ar...quase nunca isso ocorre com surpresa, esses filmes vão anunciando lentamente o tipo de sensação que deixarão. Isso ocorre pelo menos uma vez ao ano, e em 2009 "A Bolha - Ha-buah" - foi o responsável.




O filme de Eytan Fox, o mesmo diretor de "Delicada relação" - que por sinal me causou torcicolo e uma impressão não muito boa - tem grandes méritos:
- mostrar um lado de Israel que poucos conhecem, e que quase nunca pensamos a respeito, um lugar onde as pessoas são mais que fundamentalistas religiosos e odiadores de mulçumanos; uma Tel-Aviv moderna, jovem, dinâmica, e uma juventude que mais que querer a paz, se manifesta e vive a favor dela;
- tocar em assuntos polêmicos à sociedade israelense: o convívio pacífico entre palestinos e israelenses, o questionamento da ocupação...e outros polêmicos em qualquer sociedade, a homossexualidade.

Mas o ponto forte do filme está em fazer refletir a respeito da vida e do amor: que vida queremos pra nós e pros outros e que amor somos capazes de dar? A relação entre os protagonistas coloca em debate a instituição familiar, a superficialidade dos relacionamentos atualmente, a capacidade que temos em simplesmente amar...
A 'pedrada' mais que dor e falta de ar, ativa o pensamento...sei que o filme tem muito mais, descubro isso assistindo outras vezes, o que não vai diminuir o impacto da porrada que levei ontem à noite.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Shortbus

Finalmente consegui assistir a 'Shortbus'

segundo longa de John Cameron Mitchell, diretor do ótimo e divertidíssimo 'Hedwig'. Nesse novo filme não há um protagonista, vários personagens são apresentados e muito bem desenhados ao longo do filme que levanta a discussão sobre a dificuldade que temos em sentir.

Numa Nova Yorque pós 11 de setembro, essa dificuldade acaba levando as pessoas ao 'club' (provavelmente) mais bizarro - no bom sentido - da cidade: o Shortbus reune 'os abençoados e desajustados' para encontros sexuais, culturais, filosóficos, como explica seu hostess, Justin Bond; e com a ajuda do elenco o diretor construiu uma história que vai muito além do sexo, mesmo contendo belas e ousadas cenas de todos os tipos de performances sexuais; o filme fala mais sobre o porquê é tão fácil fazer sexo e tão difícil fazer/ter/receber amor.

Outro destaque do filme é sua trilha sonora: belas canções (folks?) de Scott Matthew, canções sentimentais e algumas pérolas do bom humor como 'Kolla Kolla' do grupo sueco The Ark.

'Kolla kolla' é cantada em sueco e tem um clima de festa, farra, cabaré...que me deixou apaixonado pelo grupo a ponto de ficar na net baixando tudo que consegui depois de assistir o filme.

A música é mesmo muito divertida, e títulos como 'Absolutely no decorum', 'One of us is gonna die young', 'Prayer for weekend', dão uma boa pista de que bom humor não falta à banda. O som tem qualidade, um misto de glam rock com novas tecnologias, culminam numa música agradável, mas não tola.

Posso dizer que ó The Ark é a minha banda preferida, até descobrir alguma outra novidade...rsrsrs


terça-feira, 12 de maio de 2009

La confusion des genres

Decidir sempre envolve um esforço

muito grande, mas passar pela vida sem se comprometer com nada e/ou com ninguém, tampouco é fácil. E é assim que Alain, personagem do filme "La confusion des genres", se arrasta através de todo o filme.

Já na introdução do personagem central, nos primeiros minutos do filme, percebemos que a volubilidade de Alain será a tônica da narração: um diálogo entre ele, homens e mulhers na sua cama, depois da transa...uma discussão sobre fim de casos, possíveis causas, etc, numa sucessão de parceiros quase sem fim.

Insatisfeito com seu trabalho, ele propõe casamento à sua colega de escritório, a quem parece odiar... ao mesmo tempo que tem um cliente que o atrai sexualmente, e através deste se vê envolvido com uma charmosa e inquietante cabeleireira e, como se fosse pouco, ainda há o irmão de uma ex-amante que está perdidamente apaixonado por ele. Nada facilita sua vida, mas quanto mais complicada a situação se torna, menos esforço Alain, interpretado por Pascal Gregory, faz pra resolver seus problemas.

O filme dirigido por Ilan Duran Cohen, é uma boa comédia quando expõe os percalços do personagem, mas peca pela mesma indecisão sobre a direção da história. Talvez proposital...talvez não...rs.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Eating out 2

Existe a idéia de que,

no cinema, uma sequência nunca é tão boa quanto o filme original, mas "Eating out 2 - sloppy seconds" é uma daquelas maravilhosas exceções. Além das (óbvias) qualidades técnicas - melhor fotografia, figurino, produção - a nova aventura dos amigos Kyle, Gwen, Tiffani e Marc é muito mais divertida do que a anterior, mesmo tendo o mote do primeiro filme: armar uma situação pra levar alguém pra cama.

O filme é uma deliciosa comédia de situações que, se não fosse pelas cenas de nu, poderia passar na 'sessão da tarde' (sic). Sim, o filme é leve e despretensioso, e ainda consegue levantar temas importantes como 'outing' e homofobia...nenhuma discussão profunda é claro, mas os pontos são tocados, o que dá um toque de 'moral da história', item que os roteiristas de hollywood devem considerar indispensável às comédias.

Mas a cereja no sundae é Marco Dapper = TROY !

Sim, todas em maiúsculo. É ele o novo objeto de desejo dos personagens, já que Caleb (Scott Lunsford) não está mais na história.

Marco Dapper é um daqueles rostos/corpos que causam atração imediata e dependência crônica. TROY! , o personagem, é um caipira gostosão que cai nas garras de Gwen, Kyle, Marc e Tiffani. Daí em diante o filme não poupa esforços para explorar o corpo de Dapper (ainda bem!).

A história, mesmo 'tolinha', é bem escrita e o roteiro enxuto flui de forma ágil e consegue extrair algumas gargalhadas, muitos risos e, dos mais sensíveis, uma lágrima ou outra.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

The hanging garden

Juntar um grupo de pessoas

sempre é complicado, e uma relação longa, harmoniosa e pacífica entre pessoas pode ser um objetivo inalcançável. Mesmo assim todos os dias alguns pares de pessoas se juntam com o intuito de formar uma 'família': esse tal grupo, que exceto o par inicial, ninguém tem a menor idéia se os indivíduos terão algo em comum, e em alguns casos nem mesmo o casal que inicia a família pode ser considerado um par harmonioso.



Histórias de conflitos familiares, geralmente, rendem bons filmes, é o caso de "The hanging garden", escrito e dirigido por Thom Fitzgerald, que escolhe uma família particularmente problemática como protagonista.


Willie (Chris Leavins), um ex-adolescente obeso, é aguardado para o casamento de sua irmã, depois de 10 anos fora da casa dos pais. Mais que o espanto inicial - Willie emagreceu tanto e parece outra pessoa - sua chegada revelará segredos e trará antigas mágoas e ressentimentos à tona.

O fime tem uma sensibilidade ímpar, e o jardim do título é a própria casa da família, onde Willie: aprendeu a cultivar flores ornamentais com o pai; descobriu sua sexualidade com o futuro cunhado, e transformará sua maior tragédia em libertação.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

C.R.A.Z.Y.

Depois de algumas semanas, finalmente

consegui assistir a "C.R.A.Z.Y. - Loucos de amor". Tentei alugá-lo, mas nenhuma locadora parecia sequer ter ouvido falar do filme (morar no interior têm dessas coisas). Consegui e estou extremamente feliz por isso. Dois dias foi o tempo que levei para baixar o filme no E-mule, mais uma hora para corrigir alguns erros na legenda e....voilá...




Tudo que li ou ouvi falar a respeito do filme é verdade: a história muito bem escrita por Jean-Marc Valée e interpretada com perfeição pelos protagonistas, é uma deliciosa (quase) fábula sobre um menino que nasce no dia de Natal, e assim como Jesus, tem, ou é levado a crer, o dom de curar as pessoas. Mas, talvez, a principal semelhança entre Zac e o cristo, seja a conflituosa relação com o pai, o questionamento e a posição trangressora que ambos tiveram, guardadas as devidas proporções, é claro
.

O filme é tocante, sem ser piegas; é dramático, mas não novelesco...e a trilha sonora é um caso - de amor - à parte: daquelas que grudam na mente, que te fazem querer cantar junto, que te remete a boas lembranças. Mais do que ter grandes canções, a trilha foi muito bem utilizada, cada música tem seu lugar preciso no filme.

Entendo perfeitamente por que C.R.A.Z.Y. foi a maior bilheteria canadense de 2005. Todos os ingredientes de um ótimo drama familiar estão no filme: conflito pai/filho, relação afetiva filho/mãe, projeção, rixa entre irmãos...até mesmo o tom meio fantástico de certas cenas deixa a história ainda mais interessante.

Com certeza um filme pra ser visto muitas vezes...

hoje tem outra sessão lá em casa....rs

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Dante's Cove

Depois de resistir à tentação

finalmente assisti a 'Dante's Cove'; resisti no início por não saber do que tratava a série, depois, já sabendo se tratar de uma série de terror, resisti por que o elenco era 'Los Angeles' demais pra mim. Quando digo L.A demais me refiro aos corpos musculosos, aos rostos que estampam revistas de moda, aos cabelos impecáveis mesmo quando desalinhados ... esses 'modelos' de beleza me parecem plásticos demais, e, talvez por preconceito meu, sempre os acho pouco talentosos para qualquer tipo de interpretação.

Mas agora, depois de assistir os dois episódio que compõem a primeira temporada, posso dizer que 'Dante's' é ... completamente inofensivo: nada de novo é apresentado: do fraco enredo às 'mornas' interpretações de boa parte do elenco, nada agride, ofende ou entusiasma o espectador; e o fato dos personagens principais serem gays não torna a série mais que mero entretenimento atualizado (será?!?!) já que essa 'onda gay' não é um modismo há muito tempo.

A história começa quando Ambrosius Vallin é flagrado transando com um homem por sua noiva Grace que o amaldiçoa por toda eternidade...blá blá blá. Não há mesmo nada de novo em Dante's Cove, do mote inicial a eterna lenga-lenga entre o casal principal, Toby e Kevin, que vivem entre indas e vindas, brigas e reatamentos...

Talvez a falta de grandes pretensões, além do puro entretenimento, seja o grande mérito da série. Não chega a ser o melhor dos divertimentos mas tampouco te deixará completamente entediado.

Mysterious skin

Mentir pra si mesmo, e

nem mesmo ter consciência dessa mentira, ou não realizá-la deliberamente; apenas ter uma interpretação muito pessoal dos fatos é algo que todos nós fazemos. Temos o poder de nos convencer, por necessidade, na maioria das vezes, que algo aconteceu por algum motivo especial ou por alguma razão além de nossa compreensão. E cada indivíduo tem uma forma particular de formar essa interpretação.

'Mysterious skin', filme de Gregg Araki, fala principalmente sobre isso: como um mesmo fato, ao ser interpretado de maneiras diferentes por dois indivíduos, tem consequências distintas na vida de cada um deles.

Neil (Joseph Gordon-Levitt) e Brian (Brady Corbet), dois meninos que são molestados quando crianças por seu treinador de baseball, são os personagens centrais do filme. A história segue a linha 'causa-consequência', definindo os personagens a partir disso. Enquanto Neil encara o fato como 'um sonho realizado', transforma o sexo em 'profissão' e vê aí uma chance de repetir o mesmo sentimento que teve pelo treinador, Brian não entende exatamente o que acontece, apaga a realidade da mente (chega a desmaiar por algumas horas) e forma uma interpretação, que além de peculiar chega a ser fantasiosa.

O filme, baseado no romance de Scott Heim, segue os dois garotos através dos anos, pontuando acontecimentos e mostrando o que os dois fizeram em determinadas datas até o momento final quando se encontram e finalmente se confrontam com a verdade.

Verdade dos fatos, ainda passível de interpretações, mas desta vez sem fantasia; verdade baseada principlamente nas consequências que esse fato trouxe para a vida de ambos.

No final do filme fica a certeza de que não somos o que os outros fazem de nós, mas sim o que deixamos que eles façam.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Apenas uma questão de amor

Sair ou não do 'armário'

é uma questão que sempre vem à tona, cedo ou tarde, na vida dos homossexuais. Se assumir sempre traz implicações maiores do que as que deveriam e tornam uma tomada de postura uma afronta ou uma atitude desnecessária. É sobre esse tema - o outing - que fala o telefilme francês 'Apenas uma questão de amor' (Juste une question d'amour) de 2000.

Laurent (Cyrille Thouvenin) segue mentindo sobre sua sexualidade depois que seu primo é expulso de casa e ignorado pela família até mesmo depois de sua morte. Mas sua decisão é colocada em cheque quando se envolve com Cédric (Stéphan Guérin-Tillié), seu professor.

Cédric é do tipo que não vê razões que justifiquem o 'enrustimento', e prefere que o romance termine a viver uma vida de aparências. E a partir daí Laurent precisa decidir se continua a fingir pra sua família ou o amor que sente é maior e mais forte a ponto de fazê-lo assumir-se.

O título é mais que apropriado, já que a homossexulidade é uma questão de amor. O diretor Christian Faure dá o tom certo entre o drama e o romance, e coloca as questões desse 'problema' de forma agradável e nada panfletária. As atuações também são ótimas, pricipalmente dos protagonistas.

Um filme para se assistir mais de uma vez e, se possível, na companhia de quem se ama.

20 centímetros

Sonhar não custa nada... ou
não deveria custar. Mas o sonho de Marieta, personagem principal (e por que não 'personagem-título) desse filme de 2005 dirigido por Ramón Salazar, custa tanto que ela, um travesti chamado Adolfo, se prostitui para conseguir realizá-lo.


Marieta, além de pobre, feia e sofrer do mesmo preconceito que leva milhares de travestis no mundo todo para o caminho da prostituição, ainda sofre de narcolepsia, o que faz com que ela perca a única oportunidade de emprego que lhe é oferecida durante o filme. Mas nem assim '20 centímetros' é um filme triste; o bom roteiro transforma o pior dos sofrimentos de Marieta, a narcolepsia, nos melhores momentos do filme. São durantes os lapsos de consciência que ela foge para um mundo de fantasia onde seus desejos são expressos na forma de musicais carregados de referências pop's e homoeróticas.

'20 centímetros' é um filme sensível e divertido sobre um sonho que se realiza a custa de tantos outros, a custa de algum dinheiro, e a custa de uma realização amorosa.

Mas o sorriso no rosto de Marieta na sequencia final do filme mostra que um sonho realizado não custa nada, mas vale cada centavo, suor ou lágrima.